domingo

Um mundo... sem medidas perfeitas

Podem passar séculos e novas histórias serem esculpidas sobre a mística e cruel história do nosso Mundo, podemos descobrir novos planetas, continuar a progredir tecnológica e cientificamente, mas, nunca conseguiremos ir além do nosso pensamento limitado, além de nós mesmos.
Porquê?!
Porque julgamos que todos os objectivos se alcançam recorrendo a armamento nuclear, a orçamentos avultados ou impondo a morte de pessoas inocentes…Porque a força que se desenha na nossa pele, funde-se entre conceitos conservadores e definições abstractas. Deste modo, a igualdade que depositamos nas palavras e nas frases feitas é apenas um refúgio ao preconceito intenso e corrosivo que nos pulsa o sangue, demonstrando que sabemos de cor os ideais que devemos defender, mas, em que não acreditamos! Talvez por sabermos que são apenas o reflexo de uma vontade de justiça frágil e incompleta.
Actualmente, uma grande parte da população é portadora de deficiência e embora o progresso lhes tenha proporcionado uma maior autonomia, a sua vida continua dividida entre a dor e dificuldades que, por vezes, nós próprios construímos através da incompreensão e do desprezo pela diferença. A sociedade vive consoante parâmetros restritos, sendo qualquer tipo de anomalia motivo de discriminação e rejeição. Assim, a diferença que deveria ser encarada como um estímulo que proporcionasse a todas as pessoas deficientes melhores condições de vida e um papel activo no quotidiano é encarada como um assunto místico e complexo. É a ânsia pela independência e pela anulação desse estatuto de inutilidade que as pessoas com deficiência trazem desenhado no rosto e no olhar a transbordar de sofrimento.
Sem dúvida, será imortal o desprezo, o olhar amargo e o preconceito em que aprisionamos as pessoas diferentes, quebrando-lhes a força de viver e de sonhar. Esquecemos, porém, que a vida se constrói a cada instante e que a consistência do nosso presente pode inscrever-se num nevoeiro de sombras ou na indecisão dos gestos. Deste modo, persiste o desejo de reescrever esta história… E de deixar de conjugar a discriminação num ciclo vicioso, construindo-se um Mundo sem medidas perfeitas onde se esboçasse apenas a perfeição dos sentimentos e se reafirmasse que seremos sempre diferentes.
… Ainda sonho com um final feliz…


Cláudia Borges

quarta-feira

A deficiência na primeira pessoa




"Neste novo mundo a integração não foi fácil. Muitas vezes me olharam de lado..."Oh uma menina tão bonita numa cadeirinha de rodas"...Não queria acreditar, que depois do que passei, ainda tivesse de passar por este tipo de provações... Ter que lutar contra a indiferença, os rumores, perguntarem-me vezes sem conta o que me aconteceu... e ainda ouvir de perto, o tão insignificante "coitadinha"...Isto tudo roía-me por dentro...Como o ser humano consegue ser tão cruel, desumano e ignorante. Quem lhes garantiu que a minha circunstância (ser deficiente), não passaria por eles no dia a seguir? O mundo muda num segundo e não é de todo um mundo onde nos possamos rir do mal alheio...Não estava a conseguir encarar este prosaico e aberrante modo de me verem...Eu não tinha um espelho naqueles momentos de indiferença, mas a minha estupefacção era de todo genuína...O lugar do coração e do pensamento não estava de todo no lugar de umas "rodas de uma cadeira"...Lidar com todas estas provações diárias fizeram de mim um ser mais forte e batalhador...Nada daqueles rótulos faziam sentido no meu ser...Não tenho que olhar para baixo, só porque o ser humano se acha superior a qualquer diferença...O meu "Ego" é e sempre será de uma pessoa e não de um rato...ao qual se tem que esconder para não baralhar a mente alheia de seres que se acham superiores e intocáveis...Começar a perceber estas inconstâncias da vida, deu-me ainda mais força para viver o meu dia-a-dia como conseguia e queria, porque não se tem que pedir licença ao mundo para "Viver"...E o que é ser diferente? Branco, preto, amarelo, feio, bonito, com doença, sem doença, deficiente? Em que livro encontramos estes rótulos, porque procurei no meu diário de consciência e não encontrei nenhum...Para mim o ser humano é alguém que respeito e que não tem diferenças, porque somos todos iguais...Não viver? A quem devia pedir permissão? Disseram-me uma vez, que a beleza esconde muita imperfeição...E que em diversos aspectos perfeitos existe muita controvérsia mental...E hoje acredito, que tal seja verdade, porque a frustração do ser humano não provêm de fora, mas sim de dentro...Nada disto me iria derrubar, nem me impedir, de prosseguir com a minha determinação...Não baixo o olhar, porque não tenho vergonha de quem sou, mas sigo com uma determinação que me enche de orgulho...Sou genuína e serei sempre "EU"... "




Porque ser DIFERENTE é ser IGUAL...



Ana Sobral




Retirado de:

http://rabiscandoeu.blogspot.com/2008/01/simplesmente-minha-histria-iii_02.html

segunda-feira

IGUAIS


Não sentem menos do que nós por terem menos sentidos, ou melhor, receptores de sensações. Quando os têm em falta, são compensados, acentuados sensorialmente noutra parte em que o corpo pede um pouco mais de atenção. E o corpo dá. A sociedade é que não!
As pessoas deficientes, no nosso distrito, país, e até no mundo, precisam urgentemente de mais meios, de mais incentivos que os façam agarrar a vida com toda a força que têm, com todo o vigor que é tão grande ou maior do que o nosso. É preciso acabar com o preconceito, atenuar a diferença. Não podemos acabar com ela, porque existem, de facto, diferenças físicas ou psíquicas que nos distinguem destas pessoas, mas podemos acabar com barreiras sociais e físicas que acentuam a discriminação e o rebaixamento dos que enfrentam obstáculos, todos os dias, para melhorar a qualidade de vida.
Os surdos observam a vida como se esta fosse um filme sem voz, mas aprendem a interpretar a linguagem humana – que é universal – através de gestos metafóricos e simbólicos, e são, porventura, capazes de captar uma imagem que se revela mais nítida e mais luminosa, mais cheia de força e vontade, porque os olhos curiosos têm mais sede de ver do que os nossos! Não serão eles como nós?
Os cegos também vêem – pelas mãos! Não precisamos de olhos para sentir ou conhecer uma pessoa. Eles tomam os gestos, o tacto, o percorrer de sentidos, sentem um arrepio, uma intuição, palavras e actos que denunciam qualquer personalidade, às vezes, imperceptível aos olhos humanos. Não serão eles melhores do que nós?
No entanto, no dia-a-dia enfrentam dificuldades, por vezes, impensáveis! As simples acções de subir umas escadas, de ler um cartaz, de ouvir uma chamada de atenção ou de carregar num botão que seja mais alto, parecem-nos, a nós, demasiado insignificantes para receberem atenção e, no entanto, é de impossível realização para alguns. Porém, não serão eles merecedores de iguais direitos e, por isso, de terem uma qualidade de vida minimamente razoável?
Estamos tão concentrados nos nossos problemas, na correria do nosso quotidiano, que nos esquecemos da falta que pode fazer uma rampa, um elevador ou mesmo uma escola equipada que possa acolher pessoas com alguma deficiência, mas que, nem por isso, tem menos vontade de viver. Não são as cadeiras de roda, nem a falta de visão ou audição que as tornam pessoas inferiores a nós. São diferentes, sim, mas se lhes cortarmos o braço escorrerá sangue vermelho como o nosso, se lhes abrirmos o peito veremos um coração que bate tal e qual o de cada um de nós, se lhes oferecermos um sorriso, de certeza que nos devolverão outro com gratidão e afecto… De facto, eles não sentem menos do que nós e, só por isso, são iguais a todos – com os defeitos e qualidades que caracterizam o ser humano. Não seria, portanto, humano da nossa parte, fazer ver essa igualdade?

N'Yumi

quinta-feira



Imaginas o tamanho do mundo? Talvez não, mas também não sabes o tamanho da tua indiferença. Lamentamos informar-te mas o mundo não tem medidas perfeitas... Não dizemos isto por termos em nós vincado o estatuto de revolucionárias, por sermos candidatas a algum cargo político ou termos meditado horas e horas sobre o estado da nação. Somos simplesmente jovens... Sim, isso mesmo, pertencemos à geração rebelde e despreocupada que todos criticam. Não vivemos numa cidade, nem possuímos uma rotina apressada, o nosso dia-a-dia resume-se a uma pequena vila, mas onde os grandes problemas do país surgem continuadamente. As nossas ambições são simples: deixarmos o nosso contributo e não assumirmos um papel passivo na comunidade. Não prometemos grandes feitos, nem conceitos inovadores, apenas manter as nossas convicções e lutar por aquilo que acreditamos. Vamos, passo a passo, rumo a um projecto audaz e criativo, derrubando as barreiras arquitectónicas, sociais e da informação. A nossa sociedade reveste-se de mitos e preconceitos, e nem sempre as barreiras mais sólidas são as mais difíceis de transpor - o verdadeiro obstáculo reside na nossa forma de pensar.


Um apelo,


Cláudia Borges
Ana Sobral
Ana Pereira
N'Yumi